A Igreja Passará Pela Grande Tribulação? Visão Pós-Tribulacionista

I. Introdução: A Igreja e a Grande Tribulação – Um Debate Escatológico Crucial

A pergunta "A Igreja passará pela Grande Tribulação?" está entre os temas mais discutidos na escatologia cristã, gerando profundas reflexões teológicas e diferentes correntes de interpretação.

De um lado, o pré-tribulacionismo defende que os crentes serão arrebatados antes desse período de juízo. De outro, o pós-tribulacionismo sustenta que a Igreja permanecerá na Terra durante a Tribulação, sendo preservada por Deus até o retorno final de Cristo.

Neste estudo, mergulharemos na perspectiva pós-tribulacionista, examinando:

  • Passagens bíblicas-chave que relacionam a Igreja com esse período
  • Termos originais (em grego e hebraico) que esclarecem o conceito de tribulação
  • Respostas a objeções comuns, fortalecendo a compreensão dessa visão

Nosso objetivo é oferecer uma análise clara e fundamentada nas Escrituras, ajudando você a compreender por que muitos teóricos acreditam que a Igreja não será poupada da Tribulação – mas será guardada em meio a ela.

A Igreja Passará Pela Grande Tribulação? Visão Pós-Tribulacionista

II. O Que é a Grande Tribulação? Entendendo o Período Mais Severo da História

Grande Tribulação (em grego: Thlipsis Megalē, μεγάλη θλψις) representa o período mais intenso de julgamento e sofrimento que o mundo jamais experimentou. As Escrituras descrevem este tempo com características únicas:

A. A Natureza da Grande Tribulação

  • Um período sem precedentes de sofrimento global (Mateus 24:21)
  • Tempo de manifestação plena da ira de Deus (Apocalipse 6:16-17)
  • Era de grande engano e apostasia (2 Tessalonicenses 2:3)
  • Período do domínio do Anticristo (1 João 2:18)

B. Duração e Propósito

Segundo Daniel 9:27 e Apocalipse 11-13, a Grande Tribulação:

  • Dura sete anos (visão dispensacionalista)
  • Divide-se em dois períodos de 3,5 anos cada
  • Tem como objetivos:
    • Julgar os ímpios
    • Purificar Israel
    • Preparar o mundo para o Reino Milenar

C. Os Atingidos pela Tribulação

O livro de Apocalipse revela que este período afetará:

  • Toda a humanidade (Apocalipse 3:10)
  • O povo de Israel (Jeremias 30:7)
  • A Igreja (segundo a visão pós-tribulacionista)

Importante: A expressão grega Thlipsis Megalē (μεγάλη θλψις) aparece em contextos que enfatizam tanto o sofrimento humano quanto o juízo divino, mostrando a dupla natureza deste período único na história da redenção.

III. Visão Pós-Tribulacionista: A Igreja e a Grande Tribulação

A. O Que Defende o Pós-Tribulacionismo?

O pós-tribulacionismo apresenta uma perspectiva distinta sobre o destino da Igreja, afirmando que:

  • A Igreja permanecerá na Terra durante toda a Grande Tribulação
  • O arrebatamento da igreja ocorrerá imediatamente após o período tribulacional
  • A vinda de Cristo para arrebatar Sua Igreja coincidirá com Sua Segunda Vinda gloriosa

B. Fundamentos Bíblicos da Posição Pós-Tribulacionista

1. O Ensino Direto de Jesus sobre o Arrebatamento

  • Mateus 24:29-31 estabelece claramente a sequência:
    • Primeiro: "logo depois da tribulação daqueles dias"
    • Depois: "ele enviará os seus anjos... e reunirão os seus escolhidos"
  • Marcos 13:24-27 repete o mesmo padrão cronológico
  • Jesus nunca mencionou um arrebatamento secreto antes da tribulação

2. A Presença da Igreja em Apocalipse

  • Apocalipse 13:7 - A Besta faz guerra contra os santos (termo usado para a Igreja em outras passagens)
  • Apocalipse 6:9-11 - As almas dos mártires clamam por justiça
  • Apocalipse 7:9-14 - A grande multidão vestida de branco "vem da grande tribulação"
  • Apocalipse 12:17 - O dragão faz guerra aos "restantes da sua descendência" (Igreja)

3. A Natureza da Tribulação na Teologia Paulina

  • 1 Tessalonicenses 4:13-17 (arrebatamento) está conectado a 2 Tessalonicenses 1:6-10 (juízo)
  • Paulo ensina que os crentes serão glorificados com Cristo quando Ele vier para julgar (2 Ts 1:10)
  • O termo grego thlipsis (θλψις) aparece em Romanos 5:3 e 1 Tessalonicenses 1:6 referindo-se à experiência normal da Igreja

4. O Padrão Bíblico de Preservação no Meio do Juízo

  • Como Deus protegeu Israel no Egito durante as pragas
  • Como preservou Noé dentro do dilúvio
  • Como guardou Daniel na cova dos leões
  • A promessa de Apocalipse 3:10 é de proteção na hora da provação, não de ausência dela

C. Resposta às Principais Objeções

Objeção 1: "A Igreja não está destinada à ira" (1 Ts 5:9)

Resposta: A ira referida é a ira eterna de Deus, não necessariamente a tribulação. Além disso, Deus pode proteger Seu povo no meio do juízo (como no Êxodo).

Objeção 2: "A Igreja não é mencionada após Apocalipse 4"

Resposta: Os "santos" mencionados posteriormente são a Igreja, e o termo "irmãos" aparece em Apocalipse 12:10 e 19:10.

Esta visão desafia os crentes a viverem em constante preparação, lembrando que o chamado cristão sempre incluiu a possibilidade de sofrimento por Cristo (Filipenses 1:29).

IV. Resposta às Objeções Pré-Tribulacionistas: Um Exame Detalhado

A. "A Igreja Não Está Destinada à Ira" (1 Tessalonicenses 5:9)

Objeção Pré-Tribulacionista:

Argumenta-se que 1 Tessalonicenses 5:9 ("Porque Deus não nos destinou para a ira") prova que a Igreja será removida antes da Tribulação.

Resposta Pós-Tribulacionista:

  • Distinção entre Tipos de Ira:
    • Ira soteriológica (eterna): Da qual os crentes estão eternamente livres (Jo 3:36)
    • Ira escatológica (tribulacional): Juízos temporais que Deus permite aos Seus (Ap 3:10)
  • Contexto de 1 Tessalonicenses:
    • Paulo contrasta "filhos da luz" (v.5) com "os outros" (v.6) - não sobre tempo, mas sobre estado espiritual
    • A "ira" mencionada refere-se ao juízo final (1 Ts 1:10), não necessariamente à Tribulação
  • Exemplos Bíblicos:
    • Noé foi preservado dentro do dilúvio (1 Pe 3:20)
    • Israel foi protegido durante as pragas do Egito (Êx 8:22)

B. "O Livramento de Lucas 21:36 Implica Arrebatamento Pré-Tribulacional"

Objeção Pré-Tribulacionista:

Interpretam "escapar de todas estas coisas" como remoção física da Terra.

Resposta Pós-Tribulacionista:

  • Análise do Verbo Grego:
    • Ekpheugō (κφεύγω) significa "escapar de perigo", não necessariamente "ser removido"
    • Usado em Atos 16:27 (carcereiro "escapou" do suicídio) e 2 Pe 2:20 (escapar da corrupção)
  • Contexto Imediato:
    • Jesus fala sobre "vigiar" e "orar" (v.36), não sobre desaparecer
    • Paralelo com Apocalipse 3:10: "guardar-te-ei da hora da provação"
  • Padrão Bíblico de Proteção:
    • Daniel na cova dos leões (Dn 6:22)
    • Sadraque, Mesaque e Abede-Nego (Dn 3:27)
    • Israel no deserto (Ap 12:14)

C. "A Igreja Não é Mencionada em Apocalipse 6-18"

Objeção Pré-Tribulacionista:

Afirmam que a ausência do termo "Igreja" após Apocalipse 3 prova seu arrebatamento.

Resposta Pós-Tribulacionista:

  • Terminologia Alternativa:
    • "Santos" (Ap 13:7; 14:12; 16:6)
    • "Irmãos" (Ap 12:10; 19:10)
    • "Servos" (Ap 7:3; 19:2)
  • Exemplos Claros:
    • Ap 7:9-14 - "grande multidão... vinda da grande tribulação"
    • Ap 12:17 - "restante da sua descendência" (Igreja)

D. "O Arrebatamento é um Evento Secreto e Iminente"

Objeção Pré-Tribulacionista:

Ensinam que o arrebatamento pode ocorrer a qualquer momento.

Resposta Pós-Tribulacionista:

  • Sinais Precedentes:
    • Mateus 24:29-31 - arrebatamento após tribulação
    • 2 Tessalonicenses 2:3 - apostasia primeiro
    • Mateus 24:14 - evangelho pregado a todas as nações
  • Natureza Pública:
    • 1 Tessalonicenses 4:16 - "voz de arcanjo", "trombeta de Deus"
    • Mateus 24:27 - "como o relâmpago"

Estas respostas demonstram que as objeções pré-tribulacionistas não invalidam a posição pós-tribulacionista quando examinadas à luz de:

1.   Contexto bíblico mais amplo

2.   Uso consistente de termos

3.   Padrões de ação divina nas Escrituras

V. Conclusão: A Fidelidade de Deus na Hora da Maior Provação

A visão pós-tribulacionista oferece uma compreensão equilibrada e biblicamente fundamentada sobre o destino da Igreja, apresentando três verdades essenciais:

A. A Presença da Igreja na Tribulação

  • A Igreja não será poupada da Tribulação, mas preservada na Tribulação (Ap 3:10)
  • Segue o padrão bíblico de proteção divina no meio do juízo (Êxodo 9:26; Dn 3:25)
  • Os santos são claramente mencionados como presentes durante este período (Ap 13:7; 14:12)

B. A Cronologia do Arrebatamento

  • Ocorrerá após a Tribulação (Mt 24:29-31)
  • Será público e visível, associado à Segunda Vinda de Cristo (1 Ts 4:16-17)
  • Coincidirá com a ressurreição dos mártires da Tribulação (Ap 20:4)

C. Implicações Práticas para a Igreja Hoje

Esta perspectiva:

  • Fortalece a perseverança: "Aquele que perseverar até o fim será salvo" (Mt 24:13)
  • Promove vigilância: "Vigiai, pois, a todo tempo" (Lc 21:36)
  • Encoraja fidelidade: "Se morrermos com ele, com ele viveremos" (2 Tm 2:11)
  • Mantém a esperança: "Tende bom ânimo; eu venci o mundo" (Jo 16:33)

A grande certeza é que, seja qual for o momento do arrebatamento, Deus cumprirá Sua promessa: "Eis que estou convosco todos os dias, até a consumação dos séculos" (Mt 28:20). A Igreja pode enfrentar o futuro com confiança, sabendo que Aquele que a guarda não dormita (Sl 121:4), e que nenhuma tribulação poderá separá-la do amor de Cristo (Rm 8:35-39).

VI. Referências Bíblicas para Aprofundamento Escatológico

Para quem deseja estudar mais profundamente a visão pós-tribulacionista e o tema da Grande Tribulação, recomendamos estes textos bíblicos fundamentais:

A. Passagens Essenciais Sobre a Tribulação

1.   Mateus 24 - O sermão escatológico de Jesus

2.   Marcos 13 - Paralelo ao discurso de Mateus 24

3.   Daniel 7-12 - As profecias do Antigo Testamento sobre o tempo do fim

4.   Apocalipse 6-19 - A descrição detalhada dos eventos tribulacionais

B. Textos Chave Sobre o Arrebatamento

1.   1 Tessalonicenses 4:13-18 - A descrição clássica do arrebatamento

2.   1 Coríntios 15:51-54 - A transformação dos crentes

3.   2 Tessalonicenses 2:1-12 - A relação entre apostasia e vinda de Cristo

C. Profetas Relevantes para Estudo Escatológico

1.   Daniel (especialmente caps. 2, 7, 9, 11-12)

2.   Ezequiel (caps. 36-39)

3.   Zacarias (caps. 12-14)

4.   Joel (cap. 2-3)

D. Estudo Recomendado por Tema

Tema

Referências Principais

Sinais dos Tempos

Mateus 24:3-14; Lucas 21:7-19

O Anticristo

2 Tessalonicenses 2:3-12; 1 João 2:18

Juízos Divinos

Apocalipse 6-16; Isaías 24

Proteção dos Santos

Apocalipse 3:10; 7:1-8; 12:13-17

Dica de estudo: Compare sistematicamente Mateus 24 com Apocalipse 6-19 para entender as conexões entre os ensinos de Jesus e as visões de João. Examine também como Daniel 9:27 se relaciona com Mateus 24:15 e 2 Tessalonicenses 2:3-4.

Veja também: A Igreja Passará Pela Grande Tribulação? Visão Pré-Tribulacionista 

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