Estuda a santidade universal da vida. Disso depende a tua utilidade plena, pois teus sermões duram apenas uma ou duas horas; mas tua vida prega durante toda a semana. Se Satanás puder transformar um ministro cobiçoso em amante de louvor, de prazer, de iguarias, terá arruinado o seu ministério. Entrega-te à oração e obtém os teus temas, os teus pensamentos e as tuas palavras de Deus. Lutero empregava as suas melhores três horas em oração - Robert Murray McCheyne
Essa direção hodierna tem a tendência de perder a visão do
homem ou afogar o homem no plano ou na organização. O plano de Deus é usar o
homem e usá-lo muito mais do que qualquer outra coisa.
Homens são o método
de Deus. A Igreja está procurando métodos melhores; Deus está buscando
homens melhores. “Houve um homem enviado por
Deus cujo nome era João” (João 1:6). A dispensação que anunciou e preparou
o caminho de Cristo, estava confiada àquele homem, João: “Um menino nos nasceu, um filho se nos deu” (Isaias 9:6). A
salvação do mundo se originou naquele Filho ainda menino. Paulo traz à luz o
segredo do êxito dos homens que arraigaram o Evangelho no mundo quando pôs em
relevo o caráter pessoal desses homens.
A glória e a
eficiência do Evangelho dependem dos homens que o proclamam. Quando Deus
declara que “quanto ao Senhor, Seus olhos
passam por toda a terra, para mostrar-se forte para com aqueles cujo coração é
perfeito para com Ele” (II Cr. 16:9), declara a necessidade de homens e o
fato de Deus depender de homens que sejam canais por meio dos quais exerça Seu
poder sobre o mundo.
Essa verdade vital e urgente é o que esta era das máquinas
tende a esquecer. Esquecê-la é funesto para a obra de Deus como seria
desastroso se o sol desaparecesse da abóboda celestial. Seguir-se-iam trevas,
confusão e morte.
O que hoje a Igreja
necessita não é de mais e melhor maquinismo, de novas organizações ou mais e
novos métodos, mas homens a quem o Espírito Santo possa usar - homens de
oração, homens poderosos na oração. O Espírito Santo não se derrama através dos
métodos, mas por meio dos homens. Não vem sobre maquinaria, mas sobre homens.
Não unge planos, mas homens - homens de oração.
Um eminente historiador disse que os acidentes do caráter
pessoal têm mais a ver com as revoluções das nações do que os historiadores,
filósofos ou políticos democráticos o reconhecem. Essa verdade tem aplicação
plena ao Evangelho de Cristo, ao caráter e à conduta dos seguidores de Cristo - Cristaniza o mundo e transforma nações e indivíduos. Em relação aos pregadores
do Evangelho, é eminentemente verdadeiro.
Tanto o caráter como
o sucesso do Evangelho estão confiados ao pregador. Ele faz ou desfaz a
mensagem de Deus ao homem. O pregador é o canal de ouro pelo qual o óleo divino
flui. O canal deve ser não só dourado, mas também aberto e sem rachaduras, para
que o óleo flua bem, sem obstáculo e sem desperdício.
O homem faz o
pregador. Deus deve fazer o homem. O mensageiro é, se possível, mais do que
a mensagem. O pregador é mais que o sermão. O pregador faz o sermão. Como o leite
nutridor do seio materno é a própria vida materna, de igual modo tudo o que o pregador
diz está matizado e impregnado daquilo que o pregador é. O tesouro está nos vasos
de barro e o sabor do vaso nele se impregna e pode descorá-lo. O homem, o homem
todo, jaz atrás do sermão.
A pregação não é tarefa
de uma hora. É a manifestação de uma vida. É preciso vinte anos para fazer
um sermão, porque são necessários vinte anos para formar o homem. O verdadeiro
sermão é uma obra de vida.
O sermão evoluiu porque o homem se desenvolveu. O sermão é
poderoso, porque o homem tem poder. O sermão é santo, porque o homem é santo. O
sermão está cheio de unção divina, porque o homem está cheio de unção divina.
Paulo denominou-se “Meu
Evangelho”; não que o tenha degradado por suas excentricidades pessoais ou
desviado por apropriação egoísta, mas o Evangelho foi colocado no coração e no
sangue do homem Paulo, como uma responsabilidade pessoal, para ser executada
pelas peculiaridades paulinas, a fim de trazê-lo em chamas e impulsioná-lo pela
ígnea energia da sua alma ardente. Os sermões de Paulo - que eram eles? Onde
estão eles? Esboços, fragmentos esparsos, flutuando no mar da inspiração!
Mas, o homem Paulo, maior que os seus sermões, vive para
sempre, em plena forma, figura e estatura com sua mão modeladora sobre a Igreja.
A pregação é apenas uma voz. A voz silencia, o tema é esquecido, o sermão
apaga-se da memória; no entanto, o pregador vive.
O sermão não pode
elevar-se em suas forças vivificadoras acima do homem. Homens mortos tiram de
si sermões mortos e sermões mortos matam. Tudo depende do caráter espiritual
do pregador. Sob a dispensação judaica, o sumo sacerdote trazia um frontal de ouro
com a inscrição “Santidade ao Senhor” em
letras engastadas de joias. De igual modo, todo o pregador no ministério de
Cristo deve ser moldado e dominado por essa mesma divisa sagrada.
É uma vergonha
berrante para o ministério cristão estar abaixo do sacerdócio judaico na
santidade de caráter e na santidade de objetivo. Jonathan Edwards disse: “Eu continuei com minha busca intensa de
mais santidade e conformidade com Cristo. O céu que eu desejava era o céu de
santidade”.
O Evangelho de Cristo
não é movido por ondas comuns. Não tem o poder de auto propagação. Move-se
como se movem os homens que tomaram o encargo disso. O pregador deve
personificar o Evangelho. As características divinas e mais salientes do Evangelho
devem estar nele incorporadas. O poder do amor, que constrange, tem que estar
no pregador como uma força relevante, excêntrica, que o domina todo e o faz esquecer-se
de si mesmo.
A energia da abnegação própria tem que constituir seu ser, coração,
sangue e ossos. Ele deve seguir avante entre os homens como homem, revestido de
humildade, cheio de brandura, prudente como a serpente, simples como a pomba;
reunindo em si a sujeição de um escravo e o espírito de um rei, um rei de
figura nobre, real e independente, e a simplicidade e doçura de uma criança.
O pregador tem de lançar-se a si mesmo, com todo o abandono
de uma fé perfeita e esvaziada de si e dum zelo que o consome, à sua obra pela
salvação dos homens.
Sinceros, heroicos, compassivos e intimoratos mártires têm
que ser os homens que conquistam a geração e a moldam para Deus. Se são
escravos do tempo, oportunistas, agradadores de homens, se têm respeito humano,
se sua fé em Deus e Sua Palavra tem pouca profundidade, se sua abnegação
pessoal é quebrada por qualquer fase do “eu” ou do mundo, não podem tomar conta
nem da Igreja nem do mundo para Deus.
A pregação mais
penetrante e forte do pregador deveria ser feita a si mesmo. Sua obra mais
difícil, delicada, laboriosa e radical deve ser consigo. A instrução dos doze
foi a grande, difícil e paciente obra de Cristo. Os pregadores não são
produtores de sermões, mas formadores de homens e de santos e só quem fez de si
mesmo um homem e um santo está bem instruído para essa obra.
Não é de grandes
talentos, de grandes estudos ou de grandes pregadores que Deus necessita, mas
de homens grandes em santidade, grandes em fé, grandes em amor, grandes em
fidelidade, grandes para Deus - homens que pregam sempre por meio de
sermões santos no púlpito e por meio de vidas santas fora do púlpito. Esses
podem moldar uma geração para Deus.
Os primeiros cristãos foram formados segundo esse princípio.
Eram homens de sólida formação, pregadores conforme o tipo celestial - heroicos,
rijos, militantes e santos.
Para eles, a pregação significa uma obra de auto abnegação,
de autocrucificação, séria, árdua, e de mártir. Aplicaram-se a ela de tal modo
que influíram na sua geração e formavam no seu seio uma geração que haveria de
nascer para Deus. O pregador deve ser
homem de oração. A oração é a mais poderosa arma do pregador. É em si mesmo
uma força onipotente e dá vida e força a tudo.
O sermão real é feito
no recinto secreto. O homem - o homem de Deus - é formado no recinto
secreto. Sua vida e suas mais profundas convicções nascem da sua comunhão secreta
com Deus. Suas mensagens mais ricas e doces são alcançadas quando está a sós com
Deus. A oração faz o homem; a oração faz o pregador; a oração faz o pastor.
O púlpito de hoje é
pobre em oração. O orgulho da erudição opõe-se à humilde dependência da
oração. A oração do púlpito é por demais oficial - um desempenho na rotina do
culto. Para o púlpito moderno, a oração não é mais a força poderosa como o era
na vida e no ministério de Paulo. Todo pregador que não faz da oração um
poderoso fator em sua própria vida e ministério é fraco como agente no trabalho
de Deus e impotente para fazer prosperar a Sua causa neste mundo.
E. M. Bounds