Muitos livros foram escritos no qual o autor afirma transmitir alguma sabedoria aos seus leitores.
O que torna o livro de Provérbios diferente é o autor e a fonte de sua sabedoria.
O Autor de Provérbios
Os dois últimos capítulos de Provérbios são atribuídos a
"Agur, filho de Jaqué de Massá" (30:1) e o "rei
Lemuel, rei de Massá, que lhe ensinou sua mãe" (31:1). As
identidades desses indivíduos são incertas. No entanto, a maior parte de
Provérbios pode ser atribuída à "Salomão, o filho de Davi, rei de
Israel" (1:1). Alguns destes "Provérbios de Salomão"
foram "transcritos" pelos "homens de Ezequias, rei de Judá"
(25:1).
É importante que nós compreendamos como Salomão adquiriu sua sabedoria.
Encontramos a resposta a esta pergunta logo após que Salomão estabeleceu seu
governo como rei de Israel.
“Em Gibeão apareceu o Senhor a Salomão de noite em sonhos, e
disse-lhe: Pede o que queres que eu te dê. Respondeu Salomão: De
grande benevolência usaste para com teu servo Davi, meu pai, porquanto ele
andou diante de ti em verdade, em justiça, e em retidão de coração para
contigo; e guardaste-lhe esta grande benevolência, e lhe deste um filho, que se
assentasse no seu trono, como se vê neste dia. Agora, pois, ó Senhor meu Deus,
tu fizeste reinar teu servo em lugar de Davi, meu pai. E eu sou apenas um menino
pequeno; não sei como sair, nem como entrar. Teu servo está no meio do teu povo
que elegeste, povo grande, que nem se pode contar, nem numerar, pela sua
multidão. Dá, pois, a teu servo um coração entendido para julgar o teu
povo, para que prudentemente discirna entre o bem e o mal; porque,
quem poderia julgar a este teu tão grande povo?”
“E pareceu bem aos olhos do Senhor o ter Salomão pedido tal coisa. Pelo que
Deus lhe disse: Porquanto pediste isso, e não pediste para ti muitos dias, nem
riquezas, nem a vida de teus inimigos, mas pediste entendimento para
discernires o que é justo, eis que faço segundo as tuas palavras. Eis que te
dou um coração tão sábio e entendido, que antes de ti teu igual não houve, e
depois de ti teu igual não se levantará”. 1 Reis 3:5-12
É certamente verdade que ninguém poderia igualar a Salomão, em termos de
sabedoria. Quando a rainha de Sabá ouviu da sabedoria de Salomão e viajou para
visitá-lo, a fim de ver por si mesma se os relatos eram verdadeiros, ela
descobriu que eles eram absolutamente verdadeiros.
“e disse ao rei: Era verdade o que ouvi na minha terra, acerca dos teus
feitos e da tua sabedoria. Contudo eu não o acreditava, até que vim e os meus
olhos o viram. Eis que não me disseram metade; sobrepujaste em sabedoria e bens
a fama que ouvi”. 1 Reis 10:6-7
Deus prometeu dar a Salomão sabedoria. Quando o fez, a evidência dessa
sabedoria foi tão grande que uma governante de outra terra confirmou que a
sabedoria de Salomão era muito maior do que qualquer coisa que tinha sido dito
sobre ele.
A sabedoria de Salomão foi milagrosamente concedida a ele por Deus. Isso não
vai acontecer com a gente hoje. Vai demorar mais tempo e esforço da nossa
parte, mas certamente podemos adquirir sabedoria. Observe o que Tiago escreveu:
“Ora, se algum de vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a todos dá
liberalmente e não censura, e ser-lhe-á dada. Peça-a, porém, com fé, não
duvidando; pois aquele que duvida é semelhante à onda do mar, que é sublevada e
agitada pelo vento”. Tiago 1:5-6
Depois que Salomão recebeu a sabedoria diretamente de Deus, ele escreveu seus
sábios ensinamentos no livro de Provérbios. Por quê? Se Deus milagrosamente
concedesse sabedoria a todos que desejassem, este volume escrito seria
supérfluo. Ele escreveu estas coisas para que outros pudessem lê-las e receber
instruções sobre os caminhos da sabedoria.
É importante notar que, apesar de Salomão ter recebido sabedoria direta e
milagrosamente de Deus, ele ainda possuía as características necessárias para
receber sabedoria - características que devemos ter, se quisermos adquirir
sabedoria:
1. Salomão reconheceu a Deus como a fonte de todas as bênçãos. Quando
Deus disse a Salomão para pedir-lhe o que ele desejava, a primeira resposta do
rei, foi reconhecer as grandes bênçãos de Deus até aquele momento. "De
grande benevolência usaste para com teu servo Dai, meu pai" (1
Reis 3:6). Se quisermos adquirir a sabedoria que vem do alto, devemos
reconhecer também que Tiago escreveu: "Toda boa dádiva e todo dom
perfeito vêm do alto, descendo do Pai das luzes, em quem não há mudança nem
sombra de variação" (Tiago 1:17).
2. Salomão era humilde. Embora ele se tornou rei, Salomão
reconheceu que ele era apenas "um menino pequeno" que
não sabia "como sair, nem como entrar" (1 Reis 3:7).
Nós, também devemos possuir humildade, se quisermos adquirir sabedoria. Nós
"adquirimos sabedoria" por atender as "palavras" daqueles
que estão nos ensinando a sabedoria que vem do alto. Tiago disse que "com
humildade", devemos "receber a palavra implantada" (Tiago
1:21).
3. Salomão apreciava a sua responsabilidade. Salomão
reconheceu que estava governando sobre "um grande
povo", que tinha sido "escolhido" por Deus (1 Reis
3:8). A enormidade de sua responsabilidade, juntamente com a sua humildade
observada no ponto anterior, o levou a perceber que ele precisava de sabedoria
e de desejá-la.
4. Salomão foi altruísta, colocando os outros em primeiro lugar. Salomão
poderia ter pedido a Deus para lhe dar uma vida longa, riquezas, ou a vida de
seus inimigos (1 Reis 3:11); mas não o fez. Em vez de pedir algo que seria um
benefício principal para si mesmo, ele pediu algo que iria beneficiar os outros
- "um coração entendido para julgar o povo" (1 Reis
3:9). A sabedoria do mundo concentra-se em autopromoção e autopreservação. A
sabedoria que vem do alto nos leva a procurar o bem dos outros como somos
instruídos a amar o nosso próximo como a nós mesmos (Levítico 19:18; Mateus
22:39).
Se possuirmos essas características que Salomão demonstrou quando recebeu a
sabedoria de Deus, nós também vamos adquirir sabedoria enquanto nós seguimos a
fonte da sabedoria.
No entanto, há uma outra lição importante a ser aprendida com Salomão. Podemos
aprender com seu exemplo que a busca e a posse da sabedoria por si só não são
suficientes.
“Ora, o rei Salomão amou muitas mulheres estrangeiras, além da
filha de Faraó: moabitas, amonitas, edomitas, sidônias e heteias, das nações de
que o Senhor dissera aos filhos de Israel: Não ireis para elas, nem elas virão
para vós; doutra maneira perverterão o vosso coração para seguirdes os seus
deuses. A estas se apegou Salomão, levado pelo amor. Tinha ele setecentas
mulheres, princesas, e trezentas concubinas; e suas mulheres lhe perverteram o
coração. Pois sucedeu que, no tempo da velhice de Salomão, suas mulheres lhe
perverteram o coração para seguir outros deuses; e seu coração já não era
perfeito para com o Senhor seu Deus, como fora o de Davi, seu pai; Salomão
seguiu a Astarete, deusa dos sidônios, e a Milcom, abominação dos amonitas.
Assim fez Salomão o que era mau aos olhos do Senhor, e não perseverou em
seguir, como fizera Davi, seu pai. Nesse tempo edificou Salomão um alto a
Quemós, abominação dos moabitas, sobre o monte que está diante de Jerusalém, e
a Moleque, abominação dos amonitas. E assim fez para todas as suas mulheres
estrangeiras, as quais queimavam incenso e ofereciam sacrifícios a seus
deuses”. 1 Reis 11:1-8
Salomão sabia melhor. Ele possuía sabedoria nos caminhos de Deus. No entanto,
ele não usou esta sabedoria. Em vez disso, ele ignorou a vontade de Deus e
seguiu a influência ímpia dos que estavam perto dele. Não é o suficiente buscar
a sabedoria, ou até mesmo possuir a sabedoria; devemos usar a sabedoria que
temos.
O Assunto de Provérbios
Na categoria mais ampla de sabedoria, o livro de Provérbios
discute vários assuntos diferentes. Ele lida com a busca da própria sabedoria.
Ele inclui instruções práticas para a vida. Ele discute as questões relativas
ao crescimento pessoal, nossas relações com os outros, a conduta adequada na
sociedade, e um serviço adequado a Deus. Estes assuntos estão espalhados por
todo o livro. Uma das coisas que eu fiz neste estudo é organizar os vários
provérbios de acordo com o assunto.
O livro de Provérbios divide-se em quatro áreas básicas:
1. O apelo da sabedoria - Isso é feito de duas maneiras.
Primeiro, o homem sábio apela para seu filho para dar atenção às suas palavras
de sabedoria: "Filho meu, ouve a instrução de teu pai, e não
deixes o ensino de tua mãe" (1:8). Em segundo lugar, a sabedoria
é personificada e faz um apelo para que o homem siga após ela: "A
suprema sabedoria altissonantemente clama nas ruas; nas praças levanta a sua
voz" (1:20).
2. A apreciação da sabedoria - Uma vez que reconhecemos o
apelo da sabedoria, esta segunda parte explica por que devemos a ouvir,
dizendo-nos para apreciar a sabedoria. Isso é feito por salientar os benefícios
e as bênçãos que vem quando seguimos a sabedoria: "Riquezas e
honra estão comigo; sim, riquezas duráveis e justiça. Melhor é o meu fruto do
que o ouro, sim, do que o ouro refinado; e a minha renda melhor do que a prata
escolhida" (8:18-19).
3. A aquisição da sabedoria - Depois de ouvir o apelo da
sabedoria e aprender por que devemos apreciar a sabedoria, vamos ver instruções
e encorajamento que nos levam a adquirir sabedoria: "Adquire a
sabedoria, adquire o entendimento; não te esqueças nem te desvies das palavras
da minha boca" (4:5). "A sabedoria é a coisa
principal; adquire, pois, a sabedoria; sim, com tudo o que possuis adquire o
entendimento" (4:7).
4. A aplicação da sabedoria - Simplesmente adquirir a
sabedoria não é o objetivo. A sabedoria deve ser posta em prática. Salomão
disse: "E um divertimento para o insensato o praticar a
iniquidade; mas a conduta sábia é o prazer do homem entendido" (10:23).
Um insensato não é apenas aquele que tem falta de sabedoria. Um insensato
também pratica a maldade. Da mesma forma, aquele que tem entendimento aplicará
a sua sabedoria e a colocará em prática.
Como Interpretar o Livro de Provérbios
Quando estudamos o livro de Provérbios, precisamos entender
que ele contém afirmações gerais sobre a vida. Ele não está falando de
recompensas absolutas, punições, ou consequências que existem nesta vida que
vem como resultado de qualquer vida sábia ou insensata. Observe apenas um par
de exemplos:
"Instrui o menino no caminho em que deve andar, e até quando envelhecer
não se desviará dele" (22:6). Esta afirmação é geralmente
verdadeira. No entanto, todos nós conhecemos pais piedosos que fizeram tudo o
que podiam na criação dos filhos da maneira certa, só para os seus filhos
deixarem o Senhor depois de terem crescido. Cada pessoa tem livre arbítrio.
Infelizmente, alguns optam por abandonar a boa instrução que receberam dos pais
tementes a Deus e seguem um caminho que não deveriam seguir.
"O que lavra a sua terra se fartará de pão; mas o que segue os ociosos
se encherá de pobreza" (28:19). Mais uma vez, esta é uma
afirmação que é geralmente verdadeira. No entanto, existem ocasionalmente
tempos de seca, doença, ferimentos ou outras dificuldades que podem impedir que
o trabalhador diligente aprecie o fruto do seu trabalho.
No que diz respeito a esta vida, as recompensas, punições, e as consequências
mencionadas em Provérbios são geralmente verdade. No entanto, se seguirmos a
sabedoria que vem do alto, a recompensa que temos de esperar pela frente é
absolutamente verdadeiro. Salomão disse: "o justo até na sua morte
acha refúgio"(14:32) e que a sabedoria "É árvore da vida
para os que dela lançam mão" (3:18).
Na interpretação de Provérbios, também é importante lembrar o que Salomão
disse, quase no início do livro:
“O temor do Senhor é o princípio do conhecimento; mas os insensatos
desprezam a sabedoria e a instrução”. Provérbios 1:7
Se seguirmos a sabedoria divina no temor do Senhor – respeitando-O o suficiente
para confiar nele e seguir suas instruções - nós certamente nos beneficiaremos
do estudo do livro de Provérbios.
Próximo: O apelo da sabedoria: A partir de um pai e de si mesmo, a sabedoria