Alguns ainda se lembram quando era possível fechar um contrato com uma palavra e um aperto de mãos. Hoje é necessário firmá-lo na presença de duas testemunhas, selá-lo, lacrá-lo, registrá-lo e publicá-lo, e nem ainda com isso estamos seguros de que não vai ser descumprido. A que ponto chegamos? Existe médicos que cobram cirurgias que não foram feitas; bioquímicos que cobram exames não realizados; empresários e comerciantes que enviam o dinheiro para fora do país e declaram falência; alunos que colam sem nenhuma vergonha e até sem medo, porque tem professores que consente e o justificam; donas de casa que reclamam quando o caixa não lhe dá o troco correto, mas não se importa quando o caixa lhe dá a mais; empregados públicos que aparecem no trabalho só no dia do pagamento; empregados que compram atestado médico, mas estão usando o tempo em outros negócios.
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Mas, porque não abrimos os olhos a realidade das coisas? Somos um país riquíssimo, como existem poucos no mundo, um país que tem recursos naturais e humanos em abundância. Porque é, então, que outros países, com menos recursos, vão adiante, e nós ficamos estagnados?O problema está dentro de nós, ou, para dizer mais cruamente: nós somos o problema. Vamos definir melhor, no singular: o problema sou eu.
O problema é moral, um problema de ética. A palavra “ética” soa linda, elevada, filosófica. Somos especialistas em poetizar e teorizar quando falamos de nossos conceitos da vida e conduta, especialistas em teorias filosóficas e doutrinas teológicas. Porque assim podemos despersonalizar de tal forma que não influenciam na vida cotidiana. Podemos ser “bons cidadãos” e “bons cristãos” sem que nos custe, e assim se nos permite seguir uma vida imoral, ou pelo menos amoral, no trabalho e na sociedade.
Nos queixamos que as leis são ineficazes, que tem que modificar a Constituição. Mas, porque modificá-la se não a colocamos em prática? Continuamos atravessando o semáforo no vermelho e fugindo de pagar os impostos, e logo nos queixamos que o país está um desastre. Realmente somos tão cegos?
Nosso problema é moral e, como já disse, começa comigo. Nunca posso esperar dos demais o que não espero primeiro de mim mesmo. Nós os pais não podemos esperar de nossos filhos o que eles não veêm em nós; e o mesmo critério se aplica aos patrões com seus empregados e obreiros e os governantes com os governados. O professor quer que seus alunos trabalhem mas, eles veêm que ele trabalha cada vez menos; os pais esperam que seus filhos sejam mais diligentes, mas eles, com seu exemplo, demonstram cada vez mais negligência; o executivo quer exprimir a seus funcionários enquanto ele vive passeando. Este é o cáncer que está corroendo o país. A autoridade que nos governa com a palabra unida a prática é uma autoridade ineficaz, para não dizer ilegítima.
Temos chegado a uma palabra chave: “autoridade”. Na falta de uma autoridade reconhecida, respeitada e acatada radica todo o problema de ética. Estamos tão cansados do autoritarismo que não queremos nada com autoridade. E em nossa confusão, não damos conta de que não há vida humana sem autoridade, uma autoridade boa, sã e justa.
A ética pressupõe autoridade, pressupõe juízo, e não existe sem eles. Algo está bem ou está mal, correto ou incorreto, justo ou injusto, limpo ou sujo, elogiável ou condenável. Os mais velhos nos falam de tempos quando era fácil saber e sentir a diferença, quando a sociedade possuía valores, quando a tradição era respeitada e a religião era vigente. Como base de tudo estava a fé em um Deus de justiça e santidade, de amor e misericórdia, quem premiava aos bons e condenava os maus, quem perdoava o pecador mas odiava o pecado.
Nem sempre se cumpria com os ditados desta ética, mas pelo menos ninguém estava em dúvida acerca deles. Se alguém os infringia, o ocultava, pedia perdão ou se justificava e se defendia. Mas, nunca negava que a ética existia. Em nossos dias temos chegado ao ponto que não há mais branco e preto, tudo é cinzento, tudo depende da ótica com que se olha, tudo é bom ou mal segundo meu ponto de vista, quer dizer, segundo me convenha ou não. A ética da situação reina, com o apoio muitas vezes da filosofia e a teologia.
Já não faz falta superar-se, não faz falta melhorar nossa vida nem a vida da sociedade. O único que interessa é tirar o maior beneficio pessoal no instante; e os demais, que se cuidem, porque não é assunto meu. É uma atitude que parece afetar a todos, homens e mulheres, velhos e jovens, empresários e profissionais, empregados e patrões.
Tudo se desculpa, tudo se justifica com um: “Todo mundo faz”. Temos perdido o desejo, e a força de caráter, como para dizer: “Isto está mal e não vou fazer, pensem o que pensar e custe o que custar”. Sofremos a falta de disciplina na família, na escola, na igreja e no trabalho, e em consequência se produz cada vez menos a disciplina interior, a força de vontade necessária para afrontar as decisões que devemos tomar no dia a dia. Nos estamos nos transformando em uma sociedade cinzenta, chata, insípida, medíocre, isenta do sentido de drama e tragédia, mas também isenta do sentido de superação e triunfo que só a luta moral bem ganha nos pode dar.
Simplesmente, nos falta caráter, como indivíduos e como nação. Anelamos líderes que assumam a direção moral da sociedade, e clamamos por seguidores cujos corações respondam a essa direção.
O medo de ir contra a corrente, o medo do “que dirão”, a consciência adormecida como disse Paulo cauterizada, nos tem transformado em pobres vítimas das influências e insistências de outros. Nós, que tanto nos orgulhamos de ser independentes, somos levados de um lado para o outro pelas tiranias de outros e por nossas próprias debilidades.
De uma vez por todas, nos coloquemos de pé. Declaremos que há normas que governam a conduta, que não temos medo de fazer as coisas bem, que não aceitamos que os demais atuem causando prejuízo a nossa sociedade, que queremos viver em democracia e não em tirania, nem sequer a tirania da maioria. Sejamos homens e mulheres de principios bem fundados, homens e mulheres de caráter. Deus exige, nossa nação exige, e o exige também nossa própria felicidade.
Pr. Aldenir Araújo
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Momentos de reflexão
Perfeito! Autoridade não é autoritarismo.
ResponderExcluirRever princípios e conceitos diariamente é uma maneira salutar de conviver e nos suportar de maneira ordeira e pacífica.
Parabéns!!!
Um forte abraço!
@Sérgio
ResponderExcluirAutoritarismo e autoridade, são dois conceitos bastante diferentes. O Autoritarismo está ligado a arbítrio e a práticas anti-democráticas e anti-sociais. Autoridade ao contrário, refere-se a uma prática pró-social, que tem como objetivo levar o ser humano a perceber as normas colocadas pela sociedade, a julgar sua legitimidade e a avançar no sentido de tornar mas humana e mais democrática a vida em sociedade.
Abraços